por Monica Giselli de Freitas
1. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL E
CARACTERIZAÇÃO ESTÉTICO-LITERÁRIA
A Revolução Industrial causou
grandes transformações na vida da sociedade européia em meados do século XIX,
motivou o progresso científico e tecnológico, beneficiou a burguesia industrial
deixando o operariado na miséria. Houve, assim, uma mudança no aspecto social
com o surgimento da população urbana e o aparecimento do proletariado.
Em 1848, em alguns países
europeus, como Itália, Alemanha e França começaram a surgir os primeiros
movimentos sociais de origem popular, com ideias liberais, nacionalistas e
socialistas. Nesse período as ideias liberais e democráticas foram ganhando espaço;
assim, como o campo científico-filosófico com correntes como o positivismo, o
determinismo e o darwinismo; e os métodos de experimentação e observação da
realidade, que passaram a serem os únicos capazes de explicar o mundo físico.
Surgem a partir deste contexto histórico o Realismo e o Naturalismo, que teve
início na França, em 1857, com a obra de Gustave Flaubert “Madame Bovary”, ao
descrever esse momento Massaud Moisés diz:
Quando o terceiro
momento romântico chega ao fim patenteia-se a formação de uma nova geração,
iconoclastamente anti-romântica e desejosa de acompanhar de perto o ritmo
europeu das ideias, mais uma vez de origem francesa. É a época do Realismo e
Naturalismo. (1985, p. 192)
O Realismo observa o homem quanto
ser social enquanto o Naturalismo observa o homem quanto ser biológico
afirmando que o que move o homem são as forças instintivas, tanto o Realismo
quanto o Naturalismo estão voltados para a realidade. O Realismo caracteriza-se
por apresentar veracidade, isto é, não oculta e nem distorce os fatos que
ocorrem na sociedade; retrata com lealdade os personagens descrevendo seu
caráter e aspectos negativos próprios da natureza humana, compondo, assim, um
protagonista anti-herói; os personagens são analisados psicologicamente, revelando
seus conflitos, sentimentos, lembranças etc.; apresenta uma narrativa lenta composta
por muitos detalhes; sua linguagem é simples e clara; apresenta o materialismo
do amor e de outros sentimentos que são subordinados pelos interesses sociais,
e vêm a mulher como um objeto de prazer e adultério; denuncia as injustiças
sociais e critica os valores e as instituições decadentes da sociedade
burguesa. O Naturalismo vai além destas características, apresentando
determinismo, onde o homem é subordinado de seus instintos, do meio físico e
social e da hereditariedade; opta-se por temas de patologia social, tais como
adultério, a falsidade e o egoísmo, a decadência das instituições, a impotência
do homem diante do poder, criminalidade, miséria, problemas psicológicos,
problemas ligados ao sexo etc.; os romances registram a realidade com
impessoalidade, precisão e objetividade científicas. Os naturalistas tentam
fazer de sua obra de arte uma tese científica e assim como os realistas,
escrevem com intenção reformadora.
2. CARACTERIZAÇÃO DA FICÇÃO DE EÇA DE
QUEIRÓS
A
obra de Eça de Queirós, “O primo Basílio”
tem com tema a sociedade lisboeta, o casamento (como instituição decadente) e o
adultério. Pertence ao estilo da época do Realismo, faz uso da ironia e sarcasmo,
explora o erotismo (nos detalhes entre os amantes) e apresenta abundância nos
detalhes mostrando a relação entre os aspectos físicos e psicológicos dos
personagens, o que torna a narrativa lenta. Quanto à linguagem é simples e
clara com vocabulário rico e frases bem construídas.
Na
obra o autor faz diversas críticas e para fazê-las cria personagens fisicamente
decadentes e de comportamento sexual promíscuo, o principal alvo de suas
críticas é o casamento (instituição decadente) ele nos mostra o lar burguês
aparentemente perfeito, mas com estruturas falsas o que leva ao adultério,
assim afirma Massaud Moisés quando diz que:
Em “O primo Basílio, a crítica volta-se para
a constituição da família, núcleo da sociedade, mostrando as bases falsas que a
sustentam. Casamento de conveniência em que falam mais alto o egoísmo e o
comodismo dos parceiros uma associação insossa e entediante. Para quebrar o
tédio [...] Luísa [...] busca novas sensações [...] dá-se ao adultério [...].
(1994, p.143)
O autor critica com
sarcasmo a hipocrisia burguesa, a vida urbana, a religião e a sociedade em
geral. Tenta demonstrar as características maléficas da classe social burguesa
e seus pensamentos que se fundam nas coisas materiais e prazerosas que o dinheiro
e a posição social proporcionam isso acaba por levar à destruição do casamento
por meio do adultério. Critica ainda a arte Romântica através do personagem Ernestinho
que lembra a trajetória histórica irônica e sarcástica que Eça de Queirós construiu,
o romantismo é atacado por influenciar através de suas obras a jovem Luísa
(sonhadora, romântica, frágil e que merece ser castigada com a morte por não
estar preparada para lidar com a situação nova) a cometer o adultério. Eça faz
análise social representando a realidade circundante do sofrimento da corrupção
e do vício.
3. O REALISMO DE EÇA DE QUEIRÓS EM “O PRIMO BASÍLIO”
Eça
de Queirós, membro da geração realista, foi um crítico da sociedade portuguesa
da época, por sentir necessidades de reformas sociais e a tudo moralizava. Para
ele o realismo é a crítica do homem para condenar o que há errado na sociedade.
“O primo
Basílio” sofreu grande influência da obra “Madame Bovary” de Gustave
Flaubert e inovou a criação literária da época, tem características do período
do realismo, e apesar de ter sido um de seus livros mais polêmicos também foi o
que obteve mais êxito e sucesso devido ao naturalismo de suas cenas eróticas e
a tendência de explorar os detalhes. É um Romance de tese e de influência do
meio para o indivíduo.
Segundo
Massaud Moisés “[...] Eça coloca-se sob a bandeira da República e da Revolução,
e passa a escrever, em coerência com as ideias aceitas, obras de combate as
instituições vigentes [...] e de ação e reforma social.” (1985, p. 241). Ou
seja, ele escrevia para tentar influenciar os indivíduos com suas ideias, sendo
assim, suas obras serviam como armas de combate a sociedade da época.
Todas as características da ficção de Queirós mostra
que sua obra “O primo Basílio”
pertence ao período do Realismo sendo naturalismo científico.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. Ed. 21. São Paulo: Cutrix,1985. p.
192-245.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa em perspectiva. São Paulo: Atlas S.A.,
1994. p.133-147.