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sábado, 13 de julho de 2013

A FICÇÃO DE EÇA DE QUEIRÓS

por Monica Giselli de Freitas


1. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL E CARACTERIZAÇÃO ESTÉTICO-LITERÁRIA

 

               A Revolução Industrial causou grandes transformações na vida da sociedade européia em meados do século XIX, motivou o progresso científico e tecnológico, beneficiou a burguesia industrial deixando o operariado na miséria. Houve, assim, uma mudança no aspecto social com o surgimento da população urbana e o aparecimento do proletariado.

               Em 1848, em alguns países europeus, como Itália, Alemanha e França começaram a surgir os primeiros movimentos sociais de origem popular, com ideias liberais, nacionalistas e socialistas. Nesse período as ideias liberais e democráticas foram ganhando espaço; assim, como o campo científico-filosófico com correntes como o positivismo, o determinismo e o darwinismo; e os métodos de experimentação e observação da realidade, que passaram a serem os únicos capazes de explicar o mundo físico. Surgem a partir deste contexto histórico o Realismo e o Naturalismo, que teve início na França, em 1857, com a obra de Gustave Flaubert “Madame Bovary”, ao descrever esse momento Massaud Moisés diz:

 

Quando o terceiro momento romântico chega ao fim patenteia-se a formação de uma nova geração, iconoclastamente anti-romântica e desejosa de acompanhar de perto o ritmo europeu das ideias, mais uma vez de origem francesa. É a época do Realismo e Naturalismo. (1985, p. 192)

 

               O Realismo observa o homem quanto ser social enquanto o Naturalismo observa o homem quanto ser biológico afirmando que o que move o homem são as forças instintivas, tanto o Realismo quanto o Naturalismo estão voltados para a realidade. O Realismo caracteriza-se por apresentar veracidade, isto é, não oculta e nem distorce os fatos que ocorrem na sociedade; retrata com lealdade os personagens descrevendo seu caráter e aspectos negativos próprios da natureza humana, compondo, assim, um protagonista anti-herói; os personagens são analisados psicologicamente, revelando seus conflitos, sentimentos, lembranças etc.; apresenta uma narrativa lenta composta por muitos detalhes; sua linguagem é simples e clara; apresenta o materialismo do amor e de outros sentimentos que são subordinados pelos interesses sociais, e vêm a mulher como um objeto de prazer e adultério; denuncia as injustiças sociais e critica os valores e as instituições decadentes da sociedade burguesa. O Naturalismo vai além destas características, apresentando determinismo, onde o homem é subordinado de seus instintos, do meio físico e social e da hereditariedade; opta-se por temas de patologia social, tais como adultério, a falsidade e o egoísmo, a decadência das instituições, a impotência do homem diante do poder, criminalidade, miséria, problemas psicológicos, problemas ligados ao sexo etc.; os romances registram a realidade com impessoalidade, precisão e objetividade científicas. Os naturalistas tentam fazer de sua obra de arte uma tese científica e assim como os realistas, escrevem com intenção reformadora.

 

2. CARACTERIZAÇÃO DA FICÇÃO DE EÇA DE QUEIRÓS

 

A obra de Eça de Queirós, “O primo Basílio” tem com tema a sociedade lisboeta, o casamento (como instituição decadente) e o adultério. Pertence ao estilo da época do Realismo, faz uso da ironia e sarcasmo, explora o erotismo (nos detalhes entre os amantes) e apresenta abundância nos detalhes mostrando a relação entre os aspectos físicos e psicológicos dos personagens, o que torna a narrativa lenta. Quanto à linguagem é simples e clara com vocabulário rico e frases bem construídas.

Na obra o autor faz diversas críticas e para fazê-las cria personagens fisicamente decadentes e de comportamento sexual promíscuo, o principal alvo de suas críticas é o casamento (instituição decadente) ele nos mostra o lar burguês aparentemente perfeito, mas com estruturas falsas o que leva ao adultério, assim afirma Massaud Moisés quando diz que:

 

Em “O primo Basílio, a crítica volta-se para a constituição da família, núcleo da sociedade, mostrando as bases falsas que a sustentam. Casamento de conveniência em que falam mais alto o egoísmo e o comodismo dos parceiros uma associação insossa e entediante. Para quebrar o tédio [...] Luísa [...] busca novas sensações [...] dá-se ao adultério [...]. (1994, p.143)

 

O autor critica com sarcasmo a hipocrisia burguesa, a vida urbana, a religião e a sociedade em geral. Tenta demonstrar as características maléficas da classe social burguesa e seus pensamentos que se fundam nas coisas materiais e prazerosas que o dinheiro e a posição social proporcionam isso acaba por levar à destruição do casamento por meio do adultério. Critica ainda a arte Romântica através do personagem Ernestinho que lembra a trajetória histórica irônica e sarcástica que Eça de Queirós construiu, o romantismo é atacado por influenciar através de suas obras a jovem Luísa (sonhadora, romântica, frágil e que merece ser castigada com a morte por não estar preparada para lidar com a situação nova) a cometer o adultério. Eça faz análise social representando a realidade circundante do sofrimento da corrupção e do vício.

 

3. O REALISMO DE EÇA DE QUEIRÓS EM “O PRIMO BASÍLIO

 

Eça de Queirós, membro da geração realista, foi um crítico da sociedade portuguesa da época, por sentir necessidades de reformas sociais e a tudo moralizava. Para ele o realismo é a crítica do homem para condenar o que há errado na sociedade.

 O primo Basílio” sofreu grande influência da obra “Madame Bovary” de Gustave Flaubert e inovou a criação literária da época, tem características do período do realismo, e apesar de ter sido um de seus livros mais polêmicos também foi o que obteve mais êxito e sucesso devido ao naturalismo de suas cenas eróticas e a tendência de explorar os detalhes. É um Romance de tese e de influência do meio para o indivíduo.

Segundo Massaud Moisés “[...] Eça coloca-se sob a bandeira da República e da Revolução, e passa a escrever, em coerência com as ideias aceitas, obras de combate as instituições vigentes [...] e de ação e reforma social.” (1985, p. 241). Ou seja, ele escrevia para tentar influenciar os indivíduos com suas ideias, sendo assim, suas obras serviam como armas de combate a sociedade da época.

 Todas as características da ficção de Queirós mostra que sua obra “O primo Basílio” pertence ao período do Realismo sendo naturalismo científico.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. Ed. 21. São Paulo: Cutrix,1985. p. 192-245.

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa em perspectiva. São Paulo: Atlas S.A., 1994. p.133-147.

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