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segunda-feira, 24 de junho de 2013

PRESENÇA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA EM OS LUSÍADAS

PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Conferência/conference presenças da Antiguidade clássica em Os Lusíadas. In: Revista de Letras. V25. São Paulo: 1985.
 RESUMO: Os Lusíadas são exemplos do Renascimento, onde demonstra entusiasmo pelas novas descobertas e pelo novo mundo que surgem com elas. E são cheios de influência do classicismo greco-latinos, exemplo disto é a troca do herói com características individuais por um herói coletivo e aquele que tem amor carnal e individual passa a ser castigado, já que, o único amor aceito naquela época era o amor universal, o amor pela pátria. O poema é tido como um desafio aos modelos tradicionais da Antiguidade que será resolvido no sentido da superação. A obra toma por modelo heranças épica, ou seja, a narrativa narra as ações humanas, tira o caráter individual do herói ampliando-o e o herói de Camões se transforma em toda a nação portuguesa. Observa-se na estrutura da narrativa que a ação Pode ser dividida em ação histórica onde fala da viagem de Vasco da Gama que faz parte da historia de Portugal e ação mitológica onde por varias vezes Camões cita trechos da mitologia grega e romana; a narrativa esta in média res, pois o começo da narração não coincide com o começo da narrativa; observa-se ainda que na obra existe diversas digressões (história dentro de outra história). A obra contém dois princípios de composição: o primeiro é o Ubertietung - esquema de superação que finaliza de modo brilhante os dois versos finais – e o segundo é o paralelismo greco-latino -  onde Camões unifica dois pares de exemplo: um literário e outro histórico. O habito de enumerar sem ordem aparente, grandes nomes da história grega e/ou romana não é algo novo, pois já era moda no cancioneiro geral e foi tomada dos humanistas. Em os Lusíadas o autor usa como cânone obras como Odisséia – obra grega - e Eneida – obra romana - desta foi retiradas as características do homem em missão aquele que sabe fundar impérios, manter a paz, poupar os vencidos  e derrubar os orgulhosos; daquela foi retiradas as características do herói-padrão homem com avidez de sabedoria de haurir novos conhecimentos permitindo-se se situar melhor no mundo. As várias referências à argonautas citadas na obra não são tidas como estruturais, servem apenas para enobrecer ainda mais os portugueses que tem a coragem de se aventurar por mares desconhecidos como homens em missão que a fé e o império foram divulgando por onde passavam, diferente do papel desempenhado pela Eneida e pela Odisséia. É sumamente importante observar a capacidade mitopoética de Camões que além de juntar em uma obra o papel dos Deuses e da coexistência do pagão com o cristão, ele usa mitos fazendo suas próprias invenções, tais podem ser encontradas na súplica de Vênus, nas ninfas quando desviam a naus em Moçamba, em Vênus ao serenar a tempestade no Índico, no sonho de D. Manuel, no Velho do Restelo, no gigante Adamastor, no discurso de Baco e na Ilha dos Amores. De entre estes, alguns tem modelo virgiliano, outros revelam a combinação de múltiplos elementos são usados para simbolizar os perigos que os navegantes portugueses enfrentaram, em mares desconhecidos, ela cobiça das riquezas e da glória. Camões usa com certa frequência, para enquadrar as grandes cenas do passado nacional, o emprego sistemático do paralelismo de motivos gregos com os latinos. Podem-se encontrar inúmeros exemplos, tais como o drama de Inês de Castro que é enquadrado por mitos gregos enquanto a vingança de D. Pedro I busca exemplo a história romana, a coragem do Infante Santo é adornada com as características da virtus grega e romana, no Canto VIII quando se fala no poder do dinheiro usa-se dois exemplos de cada proveniência ao fazer comparações com os feitos de Duarte Pacheco Pereira.

A visão da Antiga clássica era constituída de uma só cultura, principiaria entre os próprios gregos e latinos. Cícero foi o primeiro a tomar consciência que não era lícito chamar os romanos de bárbaros, se estes o fossem também o seriam os gregos, já que, foi consagrada por diversos autores gregos e latinos a paridade entre os gregos e romanos. Com o tempo os feitos portugueses ultrapassaram os paradigmas gregos e latinos, os portugueses tornaram-se assim, seus continuadores naturais, descendentes espirituais dos romanos que adquiriram novos conhecimentos, descobriram coisas antes nunca vistas, fizeram inúmeras descobertas ao longo da viagem levando ainda mais além o legado tradicional clássico. A epopéia é renascentista e se baseou na essência do classicismo greco-latino onde Camões não copiou, mas recriou a partir de uma norma.


Postado por: Monica Giselli de Freitas, acadêmica do 5° período de Letras da UNESC.

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